16.1.06

It lives and breathes.

2001. Iniciava-se matematicamente o novo milênio. Como todo começo (ou recomeço), a mudança trazia esperança, aquele sentimento de que tudo seria bom e novo. Este sentimento era ainda mais forte pelo fato de ser uma transição entre milênios, e não a mera passagem de um ano para outro. Haviam promessas e ansiedade do que estava por vir em todos os setores da sociedade. Para o rock’n’roll, no entanto, as coisas não pareciam tão promissoras.

Nos últimos anos o cenário mainstream do rock estava dominado pelo nu-metal – bandas como Limp Bizkit, Korn, Kid Rock e Linkin Park despontavam no que chamavam de rock. No mais, as rádios eram poluídas infinitamente pelas lolitas pop e boy bands. Havia um pouco de rock entrando sutilmente nos alto-falantes gerais, mas eram bandas que já haviam estourado antes, bandas com mais estabilidades, e no geral bandas com uma pegada pop mais forte. Oasis, Blur, R.E.M., U2, Radiohead e outros andavam presente, e as poucas revelações eram estilo Travis e Coldplay – boas bandas, mas pouco para terminar uma década que havia começado de maneira tão forte com o grunge e o britpop. A MTV – meio que ajudou a propagar a Seattle e Manchester dos anos 90 – havia se renovado e agora ajudava a vender os umbigos de Britney e Christina, assim como os músculos e as jóias dos rappers e hip-hoppers que vendiam cada vez mais. Claro, novas bandas de rock surgiam em um cenário mais underground, mas este cenário estava underground demais em comparação ao que tinha se visto na primeira metade dos anos 90. Para muitos, era iminente o que já havia sido declarado por Billy Corgan – o rock’n’roll estava morto. A esperança era pouca.

De repente, no final do ano, surge uma esperança. Um grupo de mauricinhos em Nova York (um deles brasileiro, vejam só) começam a cantar sobre uma briga com a namorada, e de repente as portas voltam a se abrir para o cenário do rock independente. Foi com a simples batida de “Last Nite” que o novo rock verdadeiro reencontrou o mainstream, e a partir daí começaram a aparecer bandas novas em todos os cantos. The Vines, King of Leon, Black Rebel Motorcycle Club, Jet, Interpol, Franz Ferdinand e muitos outros. Até bandas que já surgiam anteriormente de forma limitada como White Stripes, The Hives ou Hellacopters puderam soltar as asas e fazer parte deste boom do rock. Melhor ainda, esta explosão do rock não assumiu uma forma só – não se tratava de um bando de bandas imitando Strokes (ainda que isso também tenha acontecido), mas sim de banda atrás de banda trazendo um som novo, uma perspectiva nova para esse cenário do rock. Pegue 2004 como exemplo, e note a diferença enorme entre os álbuns lançados por um Franz Ferdinand, um Arcade Fire, e um Interpol no mesmo ano, fazendo parte de certa forma do mesmo movimento – no sentido que estas bandas tem os mesmos ouvintes.

Para fortalecer isso tudo, este novo rock veio acompanhado com a febre dos mp3, das netradios, e eventualmente dos iPods. Ou seja – a tecnologia permitia que as bandas pudessem fugir das garras das grandes gravadoras e com isso temos fenômenos como o Yankee Hotel Foxtrot do Wilco, que foi lançado na internet após a gravadora ter despejado a banda, e com isso a banda ganhou uma exposição enorme e felizmente acabou lançando o disco no mercado com um selo independente. Ou então Clap Your Hands Say Yeah! e Arctic Monkeys que sem assinar nenhum contrato lançaram músicas que ficaram entre as mais tocadas dos últimos meses no meio alternativo, através da velocidade da divulgação boca à boca que a internet atual permite.

Combinando os fatores da diversidade deste rock atual com a maior (e inesgotável) fluência da comunicação global entre os ouvintes, podemos dizer uma coisa com certeza – o rock’n’roll NÃO morreu. O rock’n’roll vive. O rock’n’roll respira. E, pelo que podemos ver, não deixará de respirar tão facilmente. Por isso resolvo aqui celebrar este novo ataque do rock, na esperança de que os vírus da disco music, nu-metal ou seja qual for a próxima praga a infestar as belas colheitas que vem surgindo, não conseguirão nunca extinguir o bom e velho e rock.

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